De vez em quando, eu vejo na estação de trem que eu frequento uma senhora vendendo pão de mel.
É uma senhora não muito idosa, deve ter seus cinquenta anos. Baixa em estatura, mas um pouco acima do peso.
Carrega uma sacola com seus pães de mel, que ela mesma faz, e um pedaço de cartolina com o preço escrito em caneta permanente vermelha. É um pouquinho caro, mas ela faz desconto se comprar dois, e é bem gostoso.
Ela não tem uma barraquinha, como a moça do cachorro quente, nem um carrinho como os dois pipoqueiros; não tem um quiosque, como os que estão ali mesmo na estação, e certamente não tem uma licença para vender seu produto.
Fica lá, parada, perto do carrinho de cachorro-quente, quem sabe para faturar algum cliente procurando "sobremesa", timidamente segurando a sacola e a cartolina, dizendo, baixinho: "Pão de mel, olha o pão de mel".
Às vezes eu compro um pão de mel ou dois. Às vezes eu preciso manter os trocados e acabo passando direto. Ontem foi dessas vezes.
Eu meio que senti que... meu coração estava pesado.
Comecei a pensar... na verdade, retomei um pensamento que eu já havia iniciado há muitos meses, quando experimentei o pão de mel pela primeira vez.
A senhora do pão de mel claramente não é apaixonada pelo que ela faz. Ela é tímida, não tem muito tato com as pessoas. Já tem certa idade e não tem uma saúde de ferro. Iimagino que talvez ela preferisse estar em casa ou em outro lugar realizando outras atividades que gastassem menos energia. Não tem uma barraca, não tem um ponto, apenas sua fiel sacola e sua humilde cartolina.
Talvez... eu não sei.
Eu fico imaginando a que ponto a senhora do pão de mel chegou para se sentir obrigada a fazer algo com as próprias mãos e tentar a sorte para conseguir uns trocados.
Claro que ela está muito melhor do que muitas pessoas que talvez nem tivessem o capital inicial para começar uma atividade sequer parecida, mas eu consigo ver que ela está, no mínimo, desesperada.
Precisa somar um dinheirinho, talvez a aposentadoria ou pensão não deem conta do recado, então foi lutar. Ela não está preparada pra essa luta, mas não tem escolha. Então faz o que sabe fazer e bota a cara a tapa. Talvez tenha sucesso e venda tudo o que trouxe, talvez a sua voz fraquinha não chame a atenção de muitos fregueses...
O que me leva a sentir um pesar... tanta gente como eu, que tem tudo na mão, uma vida equilibrada e tantas oportunidades pela frente. Ficamos a vida inteira reclamando de dor de cabeça, de cliente chato, de stress, de sono. Ficamos complicando coisas pequenas, gastando com coisas efêmeras. É como se o dinheiro valesse menos pra gente; como se viesse com menos gosto.
Nossas lutas são tão menores que a da senhora do pão de mel, que precisa enfrentar o mundo inteiro e a si mesma para conseguir uma pequena renda a mais.
Eu não costumo gostar dessas comparações. Eu sempre digo: "cada um com as suas lutas". Mas por algum motivo, a senhora do pão de mel tem a minha simpatia.
Da próxima vez, vou pegar uns pães de mel recheados com doce de leite, ou doce de coco. Talvez um de cada, que aí sai mais barato. Talvez dois de cada, porque são muito bons. Talvez três de cada, por ter me ensinado tanto com tão pouco.
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Há 8 meses