sexta-feira, 21 de abril de 2017

ReLapso: Introdução e o Primeiro Bullying da Minha Vida Escolar


Já tem algum tempo que eu queria apresentar pra vocês um novo tipo de texto que eu irei passar a escrever e aqui estamos nós.

Como vocês devem saber (ou não), o QWoL é primeiramente o meu backup de memórias, por isso eu continuo insistindo nele (apesar de não chegar nem perto da frequência que já teve) e não cogito nunca apagar o blog ou posts por mais que eu tenha mudado de opinião (exceto um ou outro). 

Existe um tipo de lembrança que eu desejo arquivar mas queria separar das outras por serem um tanto especiais: são fragmentos. Pequenos. São lapsos. Alguns deles eu nem tenho certeza se aconteceram de verdade. São pedaços preguiçosos na minha memória. Relapsos. 

Eu volta e meio retomo eles, por isso Re e Lapso, como palavras separadas pela letra maiúscula, mas ainda unidas pela falta de um espaço entre elas. ReLapso. 

A ideia do nome veio em um rápido brainstorm com o Capelo, K-2 e Pato, embora um deles tenha participado menos mas nem sei dizer qual foi. 

Espero que estejam apropriadamente introduzidos, segue logo um dos meus favoritos. 

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Por algum motivo, a minha mãe achou que eu já devia entrar na escolinha sabendo alguma coisa. Eu hoje acho meio estranha essa ideia, porque afinal a escolinha serve pra ensinar as crianças. Não sei se era necessário fazer com que um pivete de mais ou menos quatro anos já soubesse ler e escrever. 

Bom, eu era esse pivete, e apesar de não ser o maior Shakespeare infantil da paróquia, eu sabia, antes de entrar na escolinha, a formar e decifrar as sílabas mais básicas, por exemplo saber que B + A se lê "BA" e você pode usar essa artimanha para escrever BALA por exemplo na lista de compras dos seus pais. 

Entrei na escolinha com o meu conhecimento de letras já ligeiramente maturado pelos tios Mauricio de Sousa e Walt Disney e, como devia ser praxe entre as escolinhas pré-primário do século XX, a turma foi instruída a desenhar. E por algum motivo as crianças gostavam de "escrever" o que estavam desenhando, como que pra poder explicar pros adultos o que era aquele rabisco, mas elas não sabiam escrever tampouco. Eu sabia. 

Uma garotinha chamada Barbara estava desenhando com seus giz de cera uma casinha, dessas que as crianças desenham, retangular com trapézio em cima e arvorezinha do lado e então se perguntou em voz alta como se tivesse tentando recuperar uma memória: "Como é que escreve CASA...?" 

Eu que aparentemente já era um filho da mãe prepotente lhe respondi: "É C-A-S-A. C com A da CA e S com A dá ZA" 
  
Ela respondeu: "Não é isso não, é CASA. Escreve assim... o K... e... o A." 
"É C-A-S-A. Eu sei escrever. Minha mãe me ensinou." 
"Ah é? Pois diz pra sua mãe que ela é uma burra." 

Nada como ser recepcionado na escolinha com ofensas gratuitas à sua mãe. 
E mais: Com a sinceridade de uma criança de quatro anos. 

Dali dois anos a Barbara gostava de mim mas eu tava mais a fim da prima dela, a Débora (não fiquei com nenhuma delas).