domingo, 7 de novembro de 2010

Está Tudo Aqui

Qjn: "Vô, já comeu a comida da prisão?"
Vô: "Não, mas dizem que é cinco vezes superior à comida de operário."
Max: "Eu já comi a comida de escola pública."
Qjn: "É quase igual"
Riariaria.


Meu avô já estava doente há alguns meses. Complicações com o pulmão, costela quebrada, teve um AVC, coisas do tipo.

Mas desde então, a família toda ajudou para cuidar dele como pode, em casa, levando nos hospitais, fisioterapia e etc. Meus tios que o digam pois reformularam toda sua rotina para poder cuidar do vô.
Nós, no escritório que leva o nome dele, também nos desdobramos o possível para preencher a lacuna deixada por ele.

No começo foi complicado, pois ele estava sofrendo muito. Após algumas seções de UTI ele ficou mentalmente confuso. Começou a misturar as fases da vida e a realidade com a imaginação. Uma vez quando visitei ele no hospital para a "troca de turnos"entre meu pai e minha tia ele me disse (mesmo estando meio maluco) apontando para a própria testa:

"Está tudo aqui"

Eu não sei porque mas não sai mais da minha cabeça.
No começo eu encarei meio que com tom de piada, mas não é mais bem assim.

Ultima quarta-feira, volta do feriado de Finados (coincidência?...) eu senti meio que uma inspiração pra me esforçar mais no escritório.
Pedi um esclarecimento pro meu pai de uma função que eu sempre me confundia e fiz duas horas extras, só porque sim.
Enquanto isso, meus tios iam com o vô para o hospital para um procedimento de rotina no pulmão - aparentemente iam remover de vez a ferida que estava incomodando tanto.

"Mais um mês de fisioterapia e eu volto pro trabalho", ele estava convicto.

Todos estávamos convictos. Meu pai já planejava reformular o escritório caso o vô precisasse usar a cadeira de rodas, todos os colegas mandavam lembranças e perguntavam dele o tempo todo. E a resposta não podia ser diferente. "Está melhorando" (mimimi it's getting better...)

Mas, no meio da preparação para a operação, ele perdeu a luta.

Cheguei em casa depois de pegar um ônibus quase vazio e trocar um papo furado com a Gabisteca que estava voltando do curso, coincidentemente pelo mesmo ônibus.

Nada mais normal, nada fora dos conformes. Entro no meu quarto e tiro os edredons que sobraram do ultimo sleep-over que eu tivera preguiça de arrumar. Vou pro corredor, que a luz do meu quarto estava queimada.

E vejo a minha irmã no telefone, chorando pesadamente.

"O vô morreu".

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José Fernandes - Zezinho Despachante

07/07/1939 a 03/11/2010

Está tudo aqui, amigo. Incluse você.

2 comentários:

Bruno Antonelli disse...

It's all in our minds, yeah~

Really nice tribute, and my sorrows.

No mais, sem mais

CaPeLo disse...

"Está tudo aqui."
Faz sentido, after all.