domingo, 3 de maio de 2020

Pesadelo do Leprechaun


Primeiro sonho. 

O cenário do sonho é o apartamento em que eu moro com meus pais e a Marina, minha irmã caçula (a Ana Paula, minha irmã do meio, casou e se mudou há pouco menos de um ano). É desses sonhos que assustam porque se ambientam em lugares excessivamente reais; e porque o que acontece no sonho acaba sendo traduzido na "vida real".
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Eu saio do meu quarto e escuto alguns barulhos estranhos vindo dos vizinhos na rua de trás do prédio. Levanto e vou até a varanda do quarto da Marina para ver o que está acontecendo (uma atividade criminosa? Não sei, mas não seria a primeira vez). Abro a porta de alumínio e vejo uma senhora não muito velha - uma mãe - arrastando uma coisa que parece uma árvore de Natal (com enfeites fixos de alguma maneira) e é isso que faz o barulho. A árvore parece ser o brinquedo de um rapaz pré-adolescente e de sua irmãzinha. A senhora entrega a árvore para o rapaz, que a veste como se fosse uma mochila. 
 
Peço para tomar cuidado com o barulho, tem gente tentando dormir. 
 
Quase que imediatamente, o rapaz aparece dependurado na varanda. Como assim? Ele escalou três andares? Não consegue entrar em casa pois a varanda tem uma rede (ou tela) de segurança. Mas o barulho dele subindo acordou o meu pai, que apareceu do outro lado da varanda. 
 
"Vai embora daqui moleque, vai acordar todo mundo", meu pai disse. 
 
O moleque fez uma cara de traquinas e como se fosse um desses mágicos de rua atravessou a tela da varanda, efetivamente tendo invadido a nossa casa. 
 
Nossa casa foi invadida. No terceiro andar. Por um moleque mindfreak travesso. 
 
Nisso meu pai e eu ficamos alterados e mandamos o moleque ir embora antes que usássemos a violência. Ele sorriu outra vez e, dessa vez passando por um pequeno vão na varanda, de modo ligeiro e esguio e mesmo com a árvore nas costas, me avisou: "Depois eu venho pregar uma peça." 
  
Foi embora. 
 
Comecei a fechar as portas da varanda quando notei que os meus braços estavam todos arranhados, sangrando - e haviam penas de pombo neles. Fui correndo pro banheiro pensando "preciso limpar isso antes que vire uma infecção". Mas ao chegar no banheiro, me assustei: havia cocô de pombo pra todo lado. Até no teto. E o chuveiro, destruído. 
 
Chamei por meu pai, ele saberia o que fazer. Meu pai veio, mas ele não conseguia me ouvir. Minha garganta começou a fechar e o meu papo a inflar; eu tentei gritar "ele colocou um feitiço em mim", mas meu pai não ouvia. Tentei gritar mais alto, ele colocou um feitiço em mim. A minha irmã escutou e veio tentar ajudar. Será que meu pai estava em choque? Ou o moleque deixou ele surdo? "Ele colocou um feitiço em mim!!" Eu sentia minha garganta fechando cada vez mais. Estaria eu me transformando em um pombo? ELE COLOCOU UM FEITIÇO EM MIM. 
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Acordei. 

A minha garganta estava doendo igual ao sonho, e eu estava morrendo de sede. 
Tomei alguns goles de água e anotei os pontos principais do sonho. Consegui voltar a dormir depois de algumas horas. 

 

Rankle, Master of Pranks - Arte por Dmitry Burmak


Segundo sonho. 

Como se fosse uma continuação do primeiro, exatamente no mesmo cenário. 
Eu não virei um pombo nem morri de infecção, talvez alguma coisa tenha me salvado. 
 
Tento entrar no meu quarto, eis que a porta fecha e tranca por dentro. 
 
Mas o que diabos... 
 
O moleque agora assumiu a forma de um leprechaun, mais ou menos como na ilustração. Ele voou por fora da janela do meu quarto e apareceu na janela do banheiro.
 
E gritou.

Um grito estridente com som de "AAAAA" que mais parecia uma arranhada no quadro-negro. 

Ah, mas dessa vez eu te pego. 
 
Gritei de volta. 
 
Ele se assustou! Acho que não esperava que eu reagisse! 
 
Gritou novamente. 
 
Retruquei. 
 
Ele começou a se deformar, a perder a cor, a recuar. Acho que se eu continuar com isso ele vai embora e não me perturba mais. 
 
Gritou mais uma vez. 
 
Só que agora eu não consigo mais. 
 
Infelizmente eu sou só um ser humano e minhas cordas vocais tem limite. 
 
Mas um leprechaun não tem esse problema. 
 
Ele venceu novamente. 
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Mais uma vez acordei com dor na garganta e muita sede. 
 
Minha irmã disse que eu nunca ronquei tão alto. 
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Na via das dúvidas eu escondi a chave do meu quarto.