quarta-feira, 1 de julho de 2020

Sonho do Escritório Bagunçado


Backstory: 

Alguns anos atrás o escritório da minha família funcionava em outro endereço, na mesma rua.

E alguns anos mais pra trás ainda, nesse local tinha uma porta de vidro que servia como uma coisa intermediária entre fechar o escritório de fato (porta de aço) e deixar aberto. 

Nesse sonho, o escritório estava nesse endereço antigo e a porta de vidro ainda não havia espontaneamente explodido.

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É noite, está frio e tarde. Bem escuro. 

Acho que trabalhamos muito hoje. Não é anormal ficarmos até depois das 20:00 quando algum cliente resolve entregar uma montanha de trabalho. 

A minha mãe está ao meu lado, ela não ajuda, só acompanha mesmo. 

Tranquei a porta de vidro, agora termino de descer a porta de aço. De repente a porta de vidro racha. (Não espontaneamente explode como ocorreu na vida real)

Minha mãe fica fula da vida com essa rachadura e vai buscar o meu pai na lanchonete da esquina. 

Ocorre que, nesse sonho eu carreguei uma característica de um sonho anterior (que eu infelizmente não consigo descrever muito bem porque ficou muito vago na minha lembrança), em que eu sei fazer magia (como se tivesse estudado em Hogwarts). Então essa rachadura não foi nada que um feitiço de reparo não pudesse resolver. 

Eu por um lado era muito talentoso com magia, já que conseguia fazer sem varinha, somente apontando meu dedo indicador. 
Por outro lado eu era muito burro de fazer isso sem me certificar que os trouxas não estivessem olhando, e por acaso três deles estavam passando pela rua. 

Corri atrás e alcancei dois, um feitiço de esquecimento bem leve resolveu a situação. Eis que a terceira pessoa se revelou uma bruxa, então tudo bem. 

Então eu abri novamente o escritório, porta de aço pra cima, portas de vidro destrancadas. 

O escritório nesse sonha era (diferente da vida real), bagunçadíssimo e cheio de tranqueiras penduradas e empilhadas umas nas outras, como se fosse um quarto de bagunça ou uma oficina de sapateiro. Mas era assim mesmo. 

Meus pais voltaram da lanchonete, meu pai me entregou três hambúrgueres enormes e cheirando muito bem, os quais eu levei para a minha escrivaninha.

Não muito tempo depois, fomos visitados por algumas pessoas: o tio Mario, o tio Gregory, um amigo do meu pai chamado Fábio que mora na mesma rua (curiosamente, perto do endereço atual do escritório) e um mendigo. 

Mas só tinha três sanduíches e meu pai me olhou pedindo ajuda com os olhos. 

"Pai, você sabe que com magia não dá pra criar comida, mas multiplicar a que já tem, dá"

Então eu servi um lanche para cada pessoa, tomando o cuidado de não ser notado pelo Fábio e pelo mendigo, que provavelmente eram trouxas. (Eles não aparecem mais, então eu imagino que foram embora).

A parte de trás do escritório estava ainda mais bagunçada do que a da frente (o que me faz imaginar que estava "bagunçada", e a da frente "arrumada"). 

Havia uma espécie de mensagem, ou ritual, ou simpatia, colocada naquele cômodo. 

Quatro pontos cardeais: norte, sul, leste e oeste. 
Em cada um deles havia uma ou mais cartas de baralho. 
A combinação das cartas, e a colocação delas em um dos pontos cardeais, significavam alguma coisa. 

Eu sabia mas não conseguia lembrar completamente, como se fosse uma coisa que eu estudei bastante algum tempo atrás. 

Meu tio Mario me instigou a explicar para ele. 

"O às de espadas, no leste, representa o diabo. Mas a isso significa algo do tipo, conhecer a malandragem do mundo." 

"Essas duas cartas de paus, no sul, representam corpo e mente. Mas o que significa eu não lembro..." 

E o tio Mario continuava instigando, quase tirando sarro. "Vamos lá! Você sabe, você leu sobre isso." 

Estava na ponta da língua, mas eu desisti. 

Acho que magia de cartas não era a minha melhor matéria na escola. 

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"Seus sonhos são tão detalhados que eu acho que você está visitando dimensões paralelas" - Meu pai 


sexta-feira, 12 de junho de 2020

Capitão do Coração


Creio que falar os efeitos das músicas sobre o humor e a imaginação das pessoas é chover no molhado mas me acompanhe por um minuto. 

Para mim, algumas músicas têm um poder de ambientação tão forte que elas meio que me levam para uma realidade paralela. 

Algumas vezes é só um sentimento, meio vago, aquela coisa de sentir saudades de um tempo que você não viveu. 

Outras vezes é um negócio tão claro que eu consigo visualizar a cena, sentir os cheiros, sentir a temperatura, e sentir o que a minha versão nessa realidade paralela está vivendo. 

A música The Captain of Her Heart (Double) é uma do segundo tipo. 


Nostálgica, fria, lenta. A letra não é muito importante aqui, mas a ambientação. 

É uma balada bem anos 80, época em que ela foi lançada. 

Mas ela me leva a algum tempo depois. O início dos 90. 

Para quem não sabe, eu meio que nasci nos anos 90, então eu era uma criança. Mas nessa realidade paralela eu já tenho vinte e poucos. 

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São Caetano do Sul. Uma noite qualquer de inverno em 1992. 

É noite. Deve ser um tanto tarde, talvez umas 23h00 mais ou menos. 

Faz um frio tão desgraçado que as pessoas estão preferindo ficar em casa. 

Nem a Avenida Goiás, que comporta grande parte da vida noturna da cidade, parece ter escapado desse efeito. 

Está tudo deserto. 

Andamos pelo centro da cidade, meu primo Max e eu. 
  
Encolhidos em nossas jaquetas de couro, passamos pelos pequenos desertos gelados que se tornaram as ruas dessa cidade. 

As lojas já estão fechadas, mas os letreiros iluminados pelo gás neon continuam ligados. Isso confere uma familiar iluminação rosa e azul a alguns pontos da avenida. 

Mas, na sua maioria, a iluminação é simples e soturna, com as lâmpadas amarelas dos postes iluminando estritamente o suficiente. 

Não conversamos. Apenas curtimos a companhia um do outro.

E andamos. 

Nós resolvemos visitar o shopping. 

Ele já deveria estar fechado, mas como tem uma sessão de cinema acontecendo, acabou ficando aberto além do horário costumeiro. 

Caminhamos pelo shopping. As lojas estão fechadas, o que não é uma grande surpresa. No primeiro andar não tem nada de muito interessante. 

No segundo andar, o fliperama. Deve ter fechado há pouco tempo, já que o cheiro de cigarro ainda paira sobre o ar. 
A visão das máquinas desligadas e o silêncio dão uma visão de contraste. O lugar costuma ser sempre colorido e barulhento. 

O terceiro andar. Aqui só tem o cinema. O cheiro de cigarro fica mais ameno. Aqui o que predomina é o de pipoca. 

Resolvemos subir no terraço do shopping. Pelas escadas de emergência. 



Alguns avisos dizem que é proibido. Mas não tem nenhum guarda, nenhuma câmera. Não vai acontecer nada. 

Chegamos ao terraço. 

Não tem nada demais aqui. Um extenso chão de cimento, paredes altas. Aqui em cima parece que é mais frio do que lá embaixo. 

Meu primo me oferece um cigarro. 

Nós não trocamos muitas palavras. 
Não fazemos nada demais. 
Nós nos conhecemos. 
Caminhamos. Curtimos. 
Cometemos um ato inocente de rebeldia. 

Essa é a nossa diversão. 

Não precisamos de muito.

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