Já tem alguns meses
que eu não me sinto à vontade pra deixar certos sentimentos
fluírem.
Passei por fases
difíceis, todos passamos. Com o apoio de meus pais e amigos eu
consegui deixar muita coisa pra lá. Mas meus sonhos têm trazido
tanta coisa à tona que eu já não sei se consigo me conter por
muito mais tempo.
Sabe qual é o
problema dos sonhos? Eles vêm lá de dentro, do íntimo, do fundo.
Não importa o que você acredite ou o que você tenha se
convencido a acreditar, eles são, sempre, tão sinceros.
Eu sonhei com ela
esse mês. Não uma, duas vezes.
O tempo que a gente
se separou já ultrapassou o tempo que ficamos juntos, e por mais que
eu tenha aprendido a gostar de mim mesmo e apreciar a companhia
daqueles que me querem bem, eu não deixo de pensar no assunto ao
menos uma vez por dia.
Uma vez por dia.
Em mais de um ano e
meio? Isso são muitos dias. Muitos pensamentos.
Têm sido dias
difíceis. Trabalho, faculdade, a crise e toda essa palhaçada que
acontece no país que eu prefiro fingir que não é comigo.
Atualmente parece que a gente paga pra trabalhar. Eu mal tenho tempo
de fazer as coisas que eu gosto de verdade, como jogar com os brothers
ou colar espuma em cano. Eu mal tenho exercitado minha criatividade,
que coisa de até dois ou três anos atrás era tão ferrenha que eu
tinha que adiar compromissos para satisfazê-la. Mas isso não quer
dizer que a minha mente tenha parado.
Eu falo muito
sozinho. E respondo. Preferi criar um personagem que é essa pessoa
que me responde, e ele incrivelmente responde as coisas com uma
lógica e rigor que eu acho até esquisito saber que somos a mesma
pessoa.
- Mas Carmelo, será
que ela…
- Cala essa boca.
Vive sua vida.
E assim o Carmelo
vai me impedindo de voltar atrás, ficar olhando pro meu passado e
tentar encontrar o que pode ter dado errado. Mas ultimamente parece
que ele tem estado um pouco preguiçoso, e bom, mesmo que não
estivesse, os meus sonhos têm um impacto tão grande na minha vida
que não ajudaria muito.
Primeiro eu tive um
sonho feliz.
Quer dizer, seria
feliz se não fosse comigo. Seria feliz se fosse só um sonho e não
um desejo que acabou virando um sonho.
Sonhei que estava na
casa dela. Toda a família dela estava lá, como quando a irmã dela
se casou e eu fui convidado (me senti super peixe fora d'água, ou
melhor, pinguim, por causa do terno). Mas nada estava sendo
comemorado aparentemente. Era só uma reunião esporádica. Eles
faziam isso de vez em quando, pois parte da família dela vive em
Brasília e quando vêm pra SP todo mundo vai visitar. Enfim.
Era um dia alegre.
Frio mas com sol. A casa era meio gelada, mas não tinha problema. A
gente podia se esquentar abraçando. Ainda estávamos namorando no
sonho? Não. “Ainda” não.
Havíamos reatado.
O sonho se passava
digamos assim “no presente”. O frio com sol, eu sem o cabelão
que costumava ter e ela com o cabelo comprido como deixou (quando nos
conhecemos, o meu era maior que o dela… vocês conhecem meu fraco
por cabelos curtos).
Os parentes dela, sempre tão simpáticos e receptivos, me recebiam
de volta com carinho e bom humor. A vovó me dizia coisas como
“sempre gostei de você” e o aquele tio bigodudo fazia piadas na
linha do “é você de novo?” e “ela não se decide?” e eu que
sou tão sensível com essas brincadeirinhas não conseguia nem me
incomodar.
Estava tudo muito feliz.
Um pouco antes de
acordar lembro que estávamos deitados no sofá, enrolados num
cobertor grosso, assistindo à TV como naquelas tardes frias e
preguiçosas.
“Vai ser diferente
agora.”
Acordei enrolado no
cobertor mas no meu quarto e obviamente sozinho. Lá vamos nós
passar por alguns dias de bad, que droga né? Vida continua. Vai
voltar tudo ao normal? Achei que iria. Mas está tudo tão normal que
estou escrevendo. Pra você ver.
Eu estou meio que acostumado com sonhar com ela de vez em quando.
Afinal ela foi parte super importante da minha vida, não é? Minha
primeira namorada, a primeira pessoa que me viu de um jeito que
ninguém quis ver. Ela foi a minha melhor amiga. Infelizmente eu não
consegui manter um laço de amizade com ela. Eu tive que cortar
completamente porque na verdade eu ainda queria estar com ela. Ver
ela sendo feliz sozinha, depois com outra pessoa, acabou comigo e me
colocou em um ponto que eu achei necessário precisar tomar essa medida. Não
ajudou muito, talvez... pois estou exatamente aqui.
Anteriormente eu já sonhei com ela e o novo namorado dela, mas
aquele sonho não interessa no momento nem quero ter ele escrito em
algum lugar, por hora. Porém eles apareceram de novo, como casal,
essa noite. (Eu nem ao menos sei se eles ainda estão juntos, já que
não tenho contato com ela, mas é o que tenho em memória).
Era uma festa. Eu estava me sentindo muito esquisito, pois era uma
festa em que eu claramente não queria ter ido. Todos estavam
bem-vestidos, inclusive minha família, mas eu estava de bermuda e
camiseta, com o bolso quase estourando pois comportava o DS que levei pra jogar.
Aconteceu num lugar muito grande, uma mistura de buffet com igreja, e
as mesas para a gente comer ficavam do lado de fora. Não lembro de
muita coisa que tinha para comer, mas havia garçons servindo
churrasco nas mesas, tal qual um rodízio.
Em determinado ponto, um homem que não identifico mas acho que era o
dono da festa, pediu atenção de todos e disse que uma senhora iria
cantar uma música. A senhora no caso era a mãe dela, e a música
uma homenagem ao casal. Eles e mais algumas pessoas desceram uma
escada comprida, e ao vê-la de relance eu saltei da minha cadeira e
andei rapidamente para fora, com o intuito de não ser visto por eles
e não ter que enfrentar a situação.
Eis
que eu acabei numa das cozinhas do local, e os cozinheiros não se
incomodaram em me deixar sentar a uma mesa. Não demorou muito
apareceu a minha mãe, dizendo que ela a teria reconhecido e
perguntou de mim.
“Vai lá dar um oi
pra ela. Ela disse que tem saudades.”
“É mentira. Ela
não gosta de mim. E eu não gosto dela.”
Isso também é
mentira, claro. Mas era o que eu queria dizer. Talvez a esse ponto é
o que eu gostaria de sentir. Gostaria que fosse verdade, que nada em
mim tivesse vontade de vê-la, mas não é o que acontece. Eu posso
fugir, eu posso cortar laços. Mas sei o que eu sinto.
Outro dia eu estava
conversando com meus botões (sem o Carmelo, diga-se de passagem), e
foi basicamente o embrião desse texto que escrevo agora. Claro,
decidi não fazê-lo, mas esse segundo sonho me pegou desprevenido e me fez sentir que devia.
Eu sempre senti que
esse namoro durou muito pouco. Pra mim, acabou cedo. Foi empatado,
abortado, ou algo assim. Mas eu me lembro que, na época, a gente não
estava se relacionando muito bem mesmo.
Os encontros estavam
meio monótonos, as conversas vazias. Ela estava tão distante, não
parecia mais confortável comigo. Eu mesmo achei estranho, mas pensei
que era fase. Provas, vestibulares, etc, tudo junto, tudo em cima, a
pessoa fica meio esquisita mesmo. Achei que ia passar e logo tudo ia
voltar ao normal. Vai ter uma festa no fim do ano, eu vou pedir pro
DJ tocar a nossa música, vai ser ótimo.
Bom, teve provas,
teve vestibulares, teve festa. Tudo um sucesso. Mas sem a minha
presença. Terminamos em agosto.
Confesso que por
achar que era uma fase acabei não conversando com ela. Confesso
ainda que quando ela disse que queria “dar um tempo” eu disse
“tenho percebido que você anda muito distante, talvez seja melhor
mesmo”. E mais: “não existe isso de dar um tempo. Vamos
terminar. Se tiver de tentar de novo, a gente tenta de novo”.
Eu queria tentar de
novo, mas aparentemente, como dizem, tango se dança a dois.
Devo dizer ainda que
eu fui um namorado bem bosta. A falta de diálogos e discussões de
relação nunca me preocuparam muito, porque achei que estávamos indo bem.
A minha falta de
criatividade em ser romântico, em fazê-la feliz, acredito que a
deixou cada vez mais entediada, insatisfeita.
Não vou entrar em
detalhes, mas certa vez cometi uma mancada homérica que me assombra
todo dia. Ela me pediu a mão em um momento ruim, e eu estava
“ocupado demais” para fazê-lo. Acredito que isso abalou a
confiança que ela tinha em mim de um jeito que mudou completamente o nosso rumo como casal.
Mas o que eu posso dizer? Era meu primeiro namoro. Eu não fazia
ideia do que estava fazendo. Eu achava que teria muito tempo pra
aprender. Eu acreditava que talvez até estivesse fazendo tudo
direitinho, talvez “básico” demais, mas eu preferia ir
devagar.
O tempo nunca foi um problema pra mim; parece que tudo pra mim
acontece depois, acontece tarde, acontece por último.
Infelizmente esse negócio de superar um fim de namoro está caindo
nessa categoria também, junto com tantas outras coisas que me fazem ter
medo, vergonha ou tristeza.
Talvez chegue o dia em que eu supere tudo isso, assim como eu anseio
por tanta coisa que eu poderia ter alcançado mas não consegui por
esse ou aquele motivo.
Enquanto isso, vou escrevendo minha história.
"As palavras soam,
mas elas não te alcançam. Você já esqueceu de mim.
Destrua;
lembre-se. Destrua o muro; lembre-se.”
2 comentários:
Não sei bem como confortar jovem, por isso só sei dizer que a gente ta junto pro que vier. Não posso tirar o peso da tua consciência nem do teu coração, mas eu vou estar lá pra te ajudar. Embora tenha motivos, você era você na época. Sempre há arrependimento, os "não deveria ter feito isso", os "deveria ter feito isso", o agressivo "porque não aconteceu assim" e o mortal "porque isso aconteceu".Mas, ruim ou não, fazia tanto sentido na hora que foram feitos. Possível ou impossível, o mais saudável é evitar remoer as memórias (não esquece-las, mas deixa-las aonde elas devem estar).
Quanto ao combo devorador de tempo (trabalho+faculdade), uma hora a faculdade acaba, o trabalho amansa(ou pode até ficar pior, mas dentro do conhecido, do balé que já faz todo dia), mas tudo isso passa e aí você tranquiliza.
Mas isso não é agora.
Pode demorar, ser horrível, ser exaustivo. Mas toda a bad passa :D
Sabe, eu tô tão acostumado e ocupado em viver na minha bad, que acho normal as pessoas viverem as bads delas e acabo não dando a devida atenção.
"A vida é uma merda pra todo mundo", "pelo visto não sou só eu que me fodo", etc.
Embora eu não seja bom em consolar (até pq não consigo consolar nem a mim mesmo), se precisar de uma distração para a mente ou diversão estarei sempre aqui.
A menos que seja uma distração homo-afetiva, ou uma diversão sexual. Aí já não é comigo.
Mentira, é sim.
Digo, não.
... Ooou será que não?
Sóóó, aí...
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