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quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

ReLapso: Bug Semanal


Em determinado momento da minha vida eu estudei no ensino fundamental. Era bem bacana, só brincadeiras e risadas, ao menos eu acho que era assim porque não consigo lembrar de muita coisa.

Em particular eu lembro vagamente de uma situação que por alguns dias colocou a minha visão de como o mundo funciona em cheque, para logo em seguida me ensinar a não acreditar em tudo que as pessoas te dizem, mesmo que essa pessoa seja uma autoridade e/ou uma pessoa que você admira.

Certa feita, na primeira ou segunda série (eu realmente não lembro qual - algo me diz que foi na segunda, mas eu também tenho uma memória da professora da primeira antagonizando a cena) - fomos instruídos a escrever uma redação sobre as nossas férias - uma prática muito comum em escolas do nível fundamental, aparentemente tão comum que a prática se repetiu ao menos uma vez por ano até a quinta série.

A tarefa era para casa e eu ainda não tinha concebido alguns macetes escolares como fazer a atividade antes e poder ficar de boas mais tarde então eu levei a tarefa para fazer na minha humilde residência.

Ao contrário do ReLapso anterior, que se passava na pré-escola, no primário a gente já escrevia com alguma proficiência, tropeçando mais em pontuações, acentos e palavras começadas em H, então eu escrevi um texto satisfatoriamente inteligível, o qual eu solicitei que a minha mamãe desse uma lida antes de eu entregar com orgulho para a professora.

Determinado ponto desse texto continha o seguinte verbete, que é muito comum no vocabulário brasileiro e tem um significado praticamente universal: "Final de semana".

Final de semana esse que, se não me engano, foram o sábado e domingo antecedentes à segunda-feira do primeiro dia de aula, data em que foi passada a tarefa que logo sucedeu a terça-feira em que a redação foi entregue.

A professora, no horário de aula, enquanto a sala fazia desenho livre ou brincava de massinha de modelar ou seja lá que tipo de estripulia nós fazíamos, chamou a minha atenção sobre a minha redação.

- Está muito boa, querido, mas o que quer dizer com 'Final de semana'?"
- Ué prô (eu fiquei um pouco intimidado, pois segundo minha mãe não tinha erro nenhum) é o sábado e depois o domingo.
- Aaah, mas isso não é o final de semana.

Buguei.

Como assim mulher? Como a senhora vem me dizer que um final de semana não é a droga do sábado e o maldito domingo? Tipo, todos os brasileiros, talvez todos os SERES HUMANOS concordam que o final de semana são esses dias!

- O domingo é o primeiro dia da semana. O final da semana é apenas o sábado.

Ah.
Uma explicação embasada, até que faz algum sentido.
O domingo é o primeiro dia, logo não faz parte do "final".
Claro.

- Mas prô a gente em casa sempre falou final de semana
- Final de semana é só o sábado! Domingo é no começo. A gente já começa a semana descansando!

A professora solicitou que eu corrigisse a minha redação (que obviamente estava escrita à lápis) e eu apaguei "final de semana" e espremi naquele mesmo espaço "sábado e domingo" para devolver a tarefa e o texto continuar com o mesmo sentido.

Eu matutei na nossa conversa durante algum tempo - tempo o suficiente para a minha mente registrar como ReLapso - mas dali a alguns dias eu cheguei à conclusão de que a professora era a única pessoa do mundo que não incluía o domingo em seu "final de semana".

Então, talvez ela estivesse errada, no fim das contas.



sexta-feira, 21 de abril de 2017

ReLapso: Introdução e o Primeiro Bullying da Minha Vida Escolar


Já tem algum tempo que eu queria apresentar pra vocês um novo tipo de texto que eu irei passar a escrever e aqui estamos nós.

Como vocês devem saber (ou não), o QWoL é primeiramente o meu backup de memórias, por isso eu continuo insistindo nele (apesar de não chegar nem perto da frequência que já teve) e não cogito nunca apagar o blog ou posts por mais que eu tenha mudado de opinião (exceto um ou outro). 

Existe um tipo de lembrança que eu desejo arquivar mas queria separar das outras por serem um tanto especiais: são fragmentos. Pequenos. São lapsos. Alguns deles eu nem tenho certeza se aconteceram de verdade. São pedaços preguiçosos na minha memória. Relapsos. 

Eu volta e meio retomo eles, por isso Re e Lapso, como palavras separadas pela letra maiúscula, mas ainda unidas pela falta de um espaço entre elas. ReLapso. 

A ideia do nome veio em um rápido brainstorm com o Capelo, K-2 e Pato, embora um deles tenha participado menos mas nem sei dizer qual foi. 

Espero que estejam apropriadamente introduzidos, segue logo um dos meus favoritos. 

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Por algum motivo, a minha mãe achou que eu já devia entrar na escolinha sabendo alguma coisa. Eu hoje acho meio estranha essa ideia, porque afinal a escolinha serve pra ensinar as crianças. Não sei se era necessário fazer com que um pivete de mais ou menos quatro anos já soubesse ler e escrever. 

Bom, eu era esse pivete, e apesar de não ser o maior Shakespeare infantil da paróquia, eu sabia, antes de entrar na escolinha, a formar e decifrar as sílabas mais básicas, por exemplo saber que B + A se lê "BA" e você pode usar essa artimanha para escrever BALA por exemplo na lista de compras dos seus pais. 

Entrei na escolinha com o meu conhecimento de letras já ligeiramente maturado pelos tios Mauricio de Sousa e Walt Disney e, como devia ser praxe entre as escolinhas pré-primário do século XX, a turma foi instruída a desenhar. E por algum motivo as crianças gostavam de "escrever" o que estavam desenhando, como que pra poder explicar pros adultos o que era aquele rabisco, mas elas não sabiam escrever tampouco. Eu sabia. 

Uma garotinha chamada Barbara estava desenhando com seus giz de cera uma casinha, dessas que as crianças desenham, retangular com trapézio em cima e arvorezinha do lado e então se perguntou em voz alta como se tivesse tentando recuperar uma memória: "Como é que escreve CASA...?" 

Eu que aparentemente já era um filho da mãe prepotente lhe respondi: "É C-A-S-A. C com A da CA e S com A dá ZA" 
  
Ela respondeu: "Não é isso não, é CASA. Escreve assim... o K... e... o A." 
"É C-A-S-A. Eu sei escrever. Minha mãe me ensinou." 
"Ah é? Pois diz pra sua mãe que ela é uma burra." 

Nada como ser recepcionado na escolinha com ofensas gratuitas à sua mãe. 
E mais: Com a sinceridade de uma criança de quatro anos. 

Dali dois anos a Barbara gostava de mim mas eu tava mais a fim da prima dela, a Débora (não fiquei com nenhuma delas).